Por Érica Teixeira, psicóloga, especialista em neuropsicologia e produtora de conteúdos socioemocionais
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É inevitável não sentir preocupação, medo e indignação ao se deparar com notícias de violência nas escolas. Desde 2002, foram ao menos 22 atentados realizados em escolas, sendo mais da metade registrada de 2017 para cá.
Perguntas que talvez pairam a mente e os corações dos membros de sua família: Quais são as razões desse aumento de violência nesse ambiente? Quais os sinais de alerta? Como a família pode atuar na prevenção, pensando na educação dos filhos? Para refletir sobre essas perguntas, leia o artigo na íntegra.
Quais são as razões desse aumento de violência nas escolas?
Não é possível apontar uma única razão. Para entender o fenômeno da violência nas escolas, precisamos considerar o contexto dos últimos anos. O estudo “Ataques de violência extrema em escolas no Brasil”, realizado por Telma Vinha e Cléo Garcia e divulgado pela Unicamp, sinalizou que há uma conjunção de fatores relacionados a esses eventos, como:
- o comportamento digital da criança ou adolescente (acesso precoce a comunidades e redes sociais sem supervisão de adultos);
- comportamento de isolamento social;
- pensamentos extremistas;
- valorização de discursos de ódio;
- negligência parental;
- fácil acesso a armas brancas e de fogo.
As pesquisadoras apontam que, com o acesso facilitado às informações por meio de plataformas de compartilhamento de vídeos e de redes sociais, crianças e adolescentes são apresentados a discursos de ódio cada vez mais cedo. Outro fator que não pode ser ignorado é que esse cenário se agravou após um período de pandemia. Do início de 2022 até momento, foram registrados 10 dos 22 ataques desde 2002. Em uma pesquisa da Nova Escola, foram entrevistados cerca de 5 mil educadores e demonstrou-se que 68,8% deles perceberam que os estudantes voltaram mais violentos e que casos de agressividade se tornaram mais frequentes.
Quais são os sinais de alerta?
O perfil dos jovens que cometem esses crimes, muitas vezes, está associado a um histórico de abandono, violência na infância, bullying, sentimentos desagradáveis dirigidos à escola, falta de sentimento de pertencimento e de autoestima. Portanto, a identificação com os discursos de ódio atende a uma necessidade de aprovação e reconhecimento.
Diante disso, cabe ressaltar a importância de observar com atenção o comportamento dos filhos, tendo em vista que a criança ou o adolescente apresenta comportamentos prévios que podem servir como alerta de que algo não está certo.
Alguns comportamentos que você pode observar como sinais de alerta:
- comportamentos de intimidação em relação a outras pessoas;
- comportamentos autodestrutivos (automutilação, envolvimento em brigas frequentes, uso de drogas/álcool);
- valorização de conteúdos violentos (desenhos, séries, filmes e jogo de violência);
- explosões de raiva ou impulsividade e expressão de ameaças.
Perguntas em relação ao jovem que podem auxiliar na investigação dessas situações:
✓ Está sendo alvo de agressões na escola ou nas redes sociais?
✓ Está demonstrando atos ou pensamentos violentos dirigidos a alguém?
✓ Manifesta pensamentos negativos em relação à escola ou resistência em comparecer à aula?
✓ Aparenta não possuir amigos e pessoas queridas na escola?
✓ Não expressa carinho e afeto pelas pessoas ao redor?
✓ Tende a se isolar e fica grande parte do tempo em redes sociais/plataforma de vídeos ou em jogos de violência?
Caso a resposta seja sim para a maioria das perguntas, procure entender e investigar melhor o que está acontecendo. Procure apoio dos professores e coordenadores ou de outros membros da família. E, também, busque apoio especializado de profissionais de saúde mental.
Como a família pode atuar na prevenção, pensando na educação dos filhos?
Quais momentos você dedica inteiramente ao seu filho? Como costuma demonstrar carinho para ele? Você costuma expressar seus sentimentos e escutar atentamente o seu filho? Você cultiva interesse por aquilo que seu filho gosta? Costuma se engajar nos temas sobre os quais ele prefere conversar?
Investir em uma relação respeitosa, acolhedora e próxima com seu filho é essencial. Promova momentos de conexão, como cozinhar juntos, assistir um filme ou pedir para que ele compartilhe algum conteúdo de que gosta com você. Conecte-se com as brincadeiras, o cotidiano e os interesses do seu filho. Além disso, auxilie-o na identificação e no gerenciamento de emoções intensas. Valide seus sentimentos de forma a ensiná-lo que não escolhemos como nos sentimentos, mas podemos escolher o que fazer com o que sentimos.
Não existe uma resposta ou receita única a ser seguida, mas promover conexão, sentimento de pertencimento e demonstrar amor ao seu filho pode prevenir que ele busque se expressar de forma violenta.