DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA E AS RELAÇÕES HUMANAS

Por: Ana Paula Ribeiro de Oliveira, psicóloga, gestora de projetos sociais pelo Centro Cultural Orùnmilá

Tempo estimado de leitura: 5 min.

Muitos brasileiros têm comemorado o Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, data esta escolhida justamente por ter sido o dia em que Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra ao regime escravocrata, foi assassinado, em 1695. A ideia do poeta Oliveira Silveira de homenagear Zumbi dos Palmares, relembrando o dia da sua morte, como o Dia Nacional da Consciência Negra, lançada em 1971, foi adotada por todo o Movimento Negro Nacional. Espalhou-se pelo país, e é hoje uma das datas nacionais mais lembradas e celebradas, provocando uma reflexão inevitável sobre o racismo, as relações raciais e a promoção da igualdade racial no Brasil.

Sua história aglutina passado e presente e encontra eco imediato junto às populações negras e pobres do país, pois se identifica com os anseios dos setores excluídos da sociedade por um país mais democrático, mais justo e capaz de valorizar, promover e vivenciar a diversidade étnico-racial. 

Embora ainda não seja um feriado nacional, o Dia da Consciência Negra tem estimulado centenas de municípios a decretarem feriado, assim como ocorreu no estado de São Paulo, este ano, a fim de celebrar e refletir sobre o significado desse dia. De acordo com a Lei 10639/2003, as escolas devem trabalhar no calendário letivo a história da África e dos afrodescendentes, estimulando os alunos a pensar sobre o nosso passado de forma a respeitar as diferenças e a conviver com elas harmoniosamente. Conviver com essa diversidade cultural nos traz uma conscientização mais empática e respeitosa.

Ao longo do período de tráfico de seres humanos escravizados na África, entre os séculos XVI e XIX, chegaram vivos às Américas aproximadamente 11 milhões de pessoas, originárias de diversas regiões do continente africano. Somente para o Brasil foram trazidas cerca de 5 milhões (Alencastro, 2000), ou seja, 44% do total, com toda a diversidade de idiomas e tradições. Os três grupos que chegaram em maior número ao território brasileiro – bantu, fon e yorùbá – imprimiram marcas indeléveis na cultura brasileira.

Entre as maiores riquezas do Brasil, destaca-se a diversidade étnico-racial da população. Entretanto, a existência do racismo deteriora essa riqueza, hierarquizando as pessoas na sociedade, seus direitos e seu acesso a bens e serviços, gerando ainda uma cultura de violência e desrespeito para com as diferenças culturais e fenotípicas*. Segundo dados do IBGE, a população negra constitui 56% da população brasileira, mas os mesmos dados dão conta da violência e desigualdade que incide sobre os negros, por causa do racismo. Isso se dá porque, por mais que tenhamos boa vontade, muitos profissionais foram ensinados a enxergar a negritude apenas a partir de um viés único: da dor, da violência, da lástima.

Nesse contexto, é importante reconhecer a necessidade de se desenvolver, desde a primeira infância – seja em contexto familiar ou escolar –, competências socioemocionais relacionadas à valorização da diversidade e à empatia.

Ser empático, por exemplo, implica demonstrar interesse em demandas que não são suas, reconhecendo o valor do outro a partir das suas diferenças, sem julgamento. Existe uma naturalização do preconceito; por isso, é de extrema importância atuar na identificação desses comportamentos não saudáveis e agir na transformação deles, a partir de uma mudança mental e comportamental, no sentido de harmonizar com as regras sociais de convivência.

A Consciência Negra implica entender e romper com a representação desse lugar social de que as pessoas negras são só aquelas cuja única história conhecida socialmente é a de escravização. Ao contrário disso, é justamente potencializar outros aspectos das vidas negras e ampliar esse leque de representatividade. Assim, uma formação socioemocional antirracista precisa falar de amor no viés da negritude, de esperança, de criatividade, de ciência, de tecnologia, de vários aspectos para que a sociedade entenda que não é mais possível perpetuar o lugar da dor dos povos africanos, uma vez que as crianças precisam se enxergar em outros espaços e vislumbrar outras possibilidades. Essa luta pela equidade é de todos nós! Sejamos todos conscientes de que podemos, sim, fazer a diferença na vida das pessoas nas quais tocamos com a nossa convivência. Sejamos, todos, agentes de transformação.

Fenotípico

1. Relativo a fenótipo

Fenótipo

2. Conjunto de características observáveis num organismo.

Fonte: https://dicionario.priberam.org/

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